31/03/2011

e-book e-roubo



Li uma matéria na revista da Livraria Cultura (infelizmente perdi a revista e não lembro qual é a edição) sobre e-books, de como são mais baratos que livros impressos; chegam a ser 30% mais baratos. Numa primeira leitura achei essa diferença entre os preços muito interessante, partindo dum ponto de vista de leitor (consumidor), já que ler novas obras ficará "mais barato". Obras antigas ainda prefiro comprar nos Sebos da cidade. Mas depois de analisar do ponto de vista do autor, da pessoa que produz arte, acredito que o fato do livro VIRTUAL custar SOMENTE 30% "mais barato", seja um assalto a mãos armadas! Sim, mãos: porque os "ladrões" são muitos.

Quando se fala em preço de livro - ou de qualquer que seja a produção artística: CD, DVD, HQ... – sempre a culpa pelo alto valor cai sobre os "direitos autorais", o que na verdade é uma puta duma mentira. Esse termo "direitos autorais" é utilizado como cortina de fumaça, já que ele carrega indireta e semanticamente a idéia de "autor", que é o cara que "cria a parada", sacou? E é o cara que menos ganha. Desviam a verdadeira causa dos autos preços e jogam a batata quente na mão do escritor.

Quando escrevi meu livro, fui atrás de algumas editoras para tentar publicá-lo. Fui ignorado. Não tive nem o "não" como resposta. Aproveitei que havia ganho um processo de uma empresa na qual trabalhei a tempos atrás, juntei essa grana com a indiferença que recebi das editoras e decidi fazer o livro por conta própria, e fiz ele todo: textos, capa, diagramação, cadastro na Biblioteca Nacional para solicitar o ISBN... Tudo que precisava ser feito eu fiz, e só falta uma coisa, e esta não tinha como eu fazer: imprimir o livro. Cotei o valor de produção dos livros com algumas editoras, fiz na que acreditei fosse me trazer o melhor custo-benefício. Foi aí que comecei a ver como funciona o negócio (no sentido mais "negócio" da palavra). Depois de ter pago à vista (quase R$5.000,00), ter entregue todos os arquivos prontos (literalmente a editora só teria que imprimir) tive que assinar um contrato em que deixaria com ela 50 exemplares e eu pagaria a ela 30% de comissão por livro vendido, sobre o valor de capa; valor esse decido por mim (menos mal). Deixei os exemplares lá, meio contrariado, mas não havia outra opção. Quando perguntei sobre a possibilidade de colocar o livro para ser vendido em livrarias, vi onde é que a porca torce o rabo! O esquema de distribuição e repartição de valores funciona assim: nesse processo, quatro elementos estão envolvidos: o autor, que fica com 30% sobre o valor de capa, o distribuidor, que fica com 20%, a editora, que fica com 20% e a livraria, ponto final da cadeia logística, que fica com 30%; ou seja, se o livro custar R$20,00, o autor (idealizador da obra) ganha R$6,00, a editora R$4,00, o distribuidor R$4,00 e a livraria R$6,00. Dos R$20,00, o autor ganha R$6,00 e R$14,00 fica com o esquema logístico. O pior disso é que o distribuidor provavelmente é da própria editora, o que a deixaria com 40% do bolo (a maior parte, apesar de não fazer nada além do que imprimir o livro). Eu, que idealizei a obra, diagramei, fiz capa e tudo mais, ficaria com 30%. E olha que ainda ganho uma bela porcentagem. Os autores que são lançados pelas editoras, que não arcam com custo nenhum, com certeza, não chagam a receber nem perto disso. Se eu colocasse meu livro para vender nas livrarias por R$30,00, que é um preço alto, ainda sim não ganharia nada, apenas recuperaria meu investimento. Preferi não manda-los às vitrines, não quero escrever para sustentar cadeia logística. Eles que se fodam!

Agora vamos ao e-book: qual é o valor de produção de um livro virtual; um livro que não existe fisicamente, que não será impresso e nem distribuído como um físico? Acredito que seja quase ZERO. Claro que terá alguém que fará a capa, a diagramação, alguém que opere o software que produz o e-book, mas quanto essas pessoas ganham por mês para fazerem centenas de e-books? Fora que um e-book, um único arquivo, é preciso ser feito, e pode ser reproduzido infinitamente, sem custo NENHUM. Se for por na ponta do lápis, o valor de capa de um livro virtual (que não precisa ser impresso, transportado, exposto em vitrine ou entregue pelo correio, etc., etc....) teria que ser muito mais, mas muito mais barato que um livro impresso. Só 30% a menos, é pouco. E o que as editoras utilizam para justificar o preço? Os "direitos autorais"; que como vimos, é o menor dos custos.

As editoras estão amando os e-books, pois jogaram o custo no chão, reduziram somente, e no máximo, 30% do valor de capa, e o autor, idealizador da obra, continua mal fodido e mal pago como sempre foi.

Os e-books são minas-de-ouro que as editoras estão explorando, o peão que curva a coluna labutando sob sol e a seca continua sendo o autor, e os "direitos autorais" é a cortina de fumaça que encobre toda essa história.

22/03/2011

Pirataria


Muito se fala sobre a Pirataria: que o país perde em impostos, a indústria perde em empregos e assim por diante. O pior desse diz-que-me-disse, acredito eu, é a culpa que os camelôs levam, como se fossem eles os grandes responsáveis pela existência desse mercado negro, dessa indústria paralela; quando na verdade um camelô é só mais um desempregado tentando ganhar a vida.

Mas não quero neste texto divagar sobre esse assunto tentando apontar uma causa, um responsável ou culpado pela existência dessa prática ilegal; quero entrar na seguinte proposição: qual a importância da Pirataria numa sociedade consumista como a nossa? Se perceber, a Pirataria funciona como um fator de inclusão cultural.

Filmes que seriam acessíveis à classe mais pobre, somente quando fossem veiculados via TV aberta, hoje estão disponíveis nas barracas muito antes que nas locadoras (nas poucas que sobraram). A indústria cinematográfica, junto com a fonográfica, acredito que sejam as mais afetadas financeiramente. Mas a que mais me chama atenção, no sentido de inclusão, são as indústrias da moda e a eletrônica (ou digital).
 
Hoje as pessoas que circulam pelas ruas, aparentemente, estão cada vez mais fashion: óculos escuros de todos os formatos, tênis dos mais diversos modelos, bolsas femininas que custariam uma fortuna se fossem verdadeiras, bonés, camisas e camisetas, perfumes, celulares, MP3, MP4, 5... etc., etc.. O fato dos produtos serem falsificados e de pouca durabilidade ou qualidade não quer dizer absolutamente nada. A sensação de fazer parte de um grupo que anda conforme às regras do momento, não tem preço; alias, tem sim, e custa mais barato que o “original”.

Em “A obra de arte na época de sua reprodutibilidade”, Walter Benjamin desenvolve suas idéias de que como os processos de industrialização contribuíram para a democratização da cultura. Com os dados certos e a leitura dos livros corretos, vou trabalhar nessa pesquisa de que como a Pirataria contribui para uma “redemocratização” cultura. Ousado, não?


19/03/2011

Ao mestre com carinho


O fotógrafo italiano Oliviero Toscani, causou estardalhaço no mercado publicitário, na década de 1990, com as campanhas institucionais da Benetton.

Sempre fui fã desse cara. Depois de estudar Publicidade e Propaganda fiquei mais ainda. 

Cheios de métodos, regras e pesquisas, os profissionais da publicidade trabalham minuciosamente na busca em prender a atenção do público consumidor, com peças cada vez mais elaboradas. O fotógrafo Oliviero Toscani mostrou que audácia simplesmente é tão eficaz quanto a infinidade de pesquisas e de estudos que a publicidade vive fazendo.

Em 1995 ele foi entrevistado no programa Roda Viva, exibido pela TV Cultura, onde ouve grandes discussões dele com profissionais da propaganda. Clique e veja o programa.

Ele escreveu um livro chamado "A publicidade é um cadáver que nos sorri", onde ele faz críticas aos clássicos anúncios publicitários.

Ainda não apareceu alguém que chutasse a bunda da publicidade como Oliviero fez.



18/03/2011

IRA!

A melhor banda do Rock Brasil!


Marchinha do maconheiro

Roubaram a mistura da marmita 
Larica, larica

Pegaram os ovos e a lingüiça
Larica, larica

Ladrão danado, que fumou maconha
Tá perdoado, o safado sem vergonha
O meliante era um menino moço
Que queimou um fumo antes do almoço

Cê ta ligado, com a fome não se brinca
Mas por favor não toque mais na minha marmita

Alimentado, agora vem à preguiça
Larica, larica...


Felicidade clandestina II



A Felicidade tem um preço
E não sei qual ou quanto é.

Se soubesse pagaria, mas...

Enquanto não tenho a Felicidade
Compro bugigangas, piratarias e falsificações
E vivo-a clandestina
Até que acabem as ilusões

Mas tudo é ilusão
Coisas que sinto

O real é tão real quanto o abstrato
Como trato então essa questão?

Simples: abraço a Felicidade, mesmo clandestina
Levo-a de mãos dadas ao bar
Falamos e bebemos felizes
De coisas que não interessam a ninguém
Depois dançamos ao som da Jukebox:
“Você é luz, é raio, estrela e luar...”
Conversamos pelo brilho dos olhos...

Isso sim é ser feliz:
Viver o ridículo do amor:
Quebrar o monótono da rotina
Com o ridículo

Pensar coisas ridículas
Geradas pela insegurança
Para que aja incêndio
Que depois se apaga
E sobra a segurança
E a felicidade volta

Ser feliz é não ter medo de ser ridículo.

Pensando assim
Vejo que a Felicidade não custa nada
E que clandestino é um pensamento inseguro
Que acorrenta meus pés bem na hora do baile

Eu matei Deus



Ontem matei Deus

E fui ovacionado pelas massas apaixonadas

Metei o marmanjo que nos Anjos
Nas costas colocava asas

Agora ninguém mais vai voar
Talvez, quem sabe, só caminhar

Assim será difícil a possibilidade
De um Anjo voar para outra cidade

Felicidade plena de todos os amantes
Que podem amar tranqüilo, diferente de antes

Dedicava o amor, e quando olhava
Lá se ia no ar... o Anjo voava...


Tudo parecia igual...


A maioria dos finais de semana pareciam iguais. Já não tinha mais tanta graça assim sair para algum bar, encostar e ficar papeando, tomando uma cerveja. Todos pareciam oferecer as mesmas coisas: as mesmas bebidas, os mesmos cigarros, as mesmas conversas, os mesmos flertes, os mesmos mesmos... iguais, todos acabaram ficaram iguais. Mas mesmo assim Roberto ainda insistia em freqüentá-los. Quando se tem vida, se anseia por algo, e o que você quer não está dentro de casa, o que resta é sair em busca, mesmo não sabendo o que se quer. E era o que Roberto fazia.


Chegou á sexta-feira Roberto decidiu não sair com os amigos. O pessoal do trabalho achou até estranho – logo ele, que não perde um happy hour – alguém comentou. Despediu-se do pessoal, entrou no carro, ligou o rádio na estação de sempre e seguiu em direção à locadora de vídeo – o lance é pegar um filme, uma pizza, ficar em casa, curtir um pouco a solidão – pensou e tomou tal decisão. Tinha lido num jornal sobre um filme que acabara de ser lançado para locação, um do ator e diretor norte-americano Clint Eastwood – As Pontes de Madison – havia lido a sinopse, achou interessante, decidiu locá-lo. Há tempos não pegava um filme. Chegou à locadora e saiu à procura do longa. Viu-o na mão de uma garota que estava encantadoramente parada, com uma expressão suave ao belo rosto, lendo a contra capa... Roberto ficou parado olhando... a menina olhou-o de volta... Sorriu, disse:

- Você quer levar esse filme?

- Sim... quer dizer, não. Se você for pega-lo, não precisa se incomodar, eu o levo outro dia, não tem problema. - Disse meio sem jeito.

- Não, não, pode levar. Eu já assisti. - Disse num tom normal, mas para Roberto aquelas palavras soaram com toda a graça do mundo.

- Ah, já! É bom, gostou? – Perguntou insitntivamente.

- Adorei, é maravilhoso! Eu assisti no cinema. - Ela era fã de Clint Eastwood. Aprendeu a gostar do ator de tanto ver os filmes de western ao lado pai.

- É, que bom! Foi com o namorado? – Essa pergunta não fez por instinto e sim por malícia, de quem sabe como chegar ao ponto que quer.

- Não, não... é que gosto de cinema, e quando ninguém quer ir, vou só. Não perco os filmes que quero ver, por falta de companhia. - Respondeu com sorriso nos lábios.

- Como você se chama?

- Rita.

- Me fala um pouco do filme. - Ele disse a ela seu nome também e o papo seguiu.

            A conversa caminhou tão naturalmente que quando os dois prestaram atenção há situação, já haviam trocado os números dos telefones.

            Em casa, ansioso, Roberto apresou os preparativos para assistir ao filme. Esperou a pizza, sentou-se atencioso no sofá e mergulhou na estória, prestando atenção a cada detalhe, para poder ter o que falar com a menina que acabara de conhecer. E se encantar.
           
            No outro dia, tímido, ligou para Rita, meio sem jeito, convidou-a para ir ao cinema, sem mesmo saber o que estava passando nas salas. Rita, sem pensar muito, aceitou. 




Amarelo


O amarelo não é todas, mas é parte de todas, em síntese. Na agonia da orelha cortada de Van Gogh, na imponência do Sol, no milho de Cora orado em versos, nos berros New Waves dos anos oitenta, na aurora, arco-íris, no sorriso sem graça da fome... O amarelo é cor e metáfora. Como cor é tijolo da muralha multicolorida dos anúncios publicitários, imagens eletrônicas formadas por bilhões de micro-pontos enfileirados. É componente indispensável na receita das cores: açúcar em pudim, sal em batatas fritas. Como metáfora é um nascer matinal diário diluído em raios de utopia que se espera algo bom. É traço da barriga vazia que chora amarelo, que aparenta amarelo, mas que não amarela ante à vida. Sem o amarelo tudo isso seria menos ou até não seria. Na certeza da não existência do amarelo, diria que as coisas seriam sem o verde da esperança e o céu não seria anil. Acho que as coisas seriam negras, como os olhos que não enxergam o amarelo, acham que é.