07/04/2015

diálogos poéticos: o poeta enfermo e a musa enfermeira

(escrito a quatro mãos)

No seu leito de loucura noturna, o poeta sofre e diz à musa enfermeira:

nem tudo que reluz é ouro
mas ouro não me seduz

esses grandes olhos castanhos
raros e não estranhos
ao meu coração, fatal
sua luz que brilha, letal
é o mais precioso metal

essa sim, nobre maravilha
cristal que rebrilha, luz venal
pois nem tudo que é ouro reluz
nem tudo que é ouro conduz
a algo bom


- a musa enfermeira

poesia crônica aguda
não é fácil tratar
na gravidade de espasmos e mudanças no olhar
há até quem desista de cuidar...

mas veja bem, enfermo poético,
talvez eu, dessa doença, possa te curar.


- o poeta enfermo

mas e seu e não quiser ser curado
e sim perder as estribeiras
para ser eternamente tratado?

será que essa musa enfermeira
mesmo assim, vai me ajudar?


- a musa enfermeira

viver na eterna loucura
perder as estribeiras
depender da musa enfermeira
é algo que se deve querer?


- o poeta enfermo

é algo que se deve
porque senão como saber?

como diz o outro poeta
que também perdeu a estribeira
"que seja eterno enquanto dure"
o tratamento e a musa enfermeira


- a musa enfermeira

o tratamento e a musa enfermeira são duradouros
tem que ver se o mesmo pode se dizer do louco


- o poeta enfermo

louco não sabe que é louco
seu distúrbio é duradouro
e sua loucura é contagiosa
porque a enfermeira (que é mó gostosa)
demonstra que isso a afeta
pois também está virando poeta!


- a musa enfermeira

a enfermeira é quase poeta
e a loucura contagiosa
gostosa é por sua conta
e nossa conversa engenhosa


- o poeta enfermo

a enfermeira, agora poeta
é gostosa além da conta
porque não é qualquer uma que é engenhosa

pra conversar assim tem que ter talento
e isso ela tem de sobra
só não mostra, a enfermeira


- a musa enfermeira

você chama de talento
eu chamo de esforço
rimar pra te fazer graça
e te colocar um sorriso no rosto


... E o sorriso surgiu e a enfermidade se foi...




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