Não acredite em falsos profetas
a cada otário que nasce
um pastor novo o prega
OBS: infelizmente não encontrei o autor das caricaturas, para postar o crédito aqui.
Não acredite em falsos profetas
a cada otário que nasce
um pastor novo o prega
OBS: infelizmente não encontrei o autor das caricaturas, para postar o crédito aqui.
Com
a morte do Rei Pelé, o maior jogar de futebol de todos os tempos, atleta do
século, veio à tona um assunto que já foi sugerido tempos atrás: a
aposentadoria da camisa 10, no time do Santos FC. Talvez até na seleção
brasileira, defendem alguns. Mas vamos refletir sobre história, conquistas e reconhecimento.
Sabemos
que no Brasil não se valoriza a história. O brasileiro, em sua maioria, não
conhece sobre a própria história, não preserva a memória sobre o país, não
preserva seu patrimônio histórico: literatura, memorabilia, prédios,
personalidades, etc, nada é preservado por aqui. Inclusive ainda acreditamos
que o que vem de fora é melhor. O vira-lata caramelo que há dentro de nós
parece que sempre late mais alto.
O
número 10 no futebol, antes do Pelé, era apenas um número. Ele mesmo jogou profissionalmente
primeiro com a 13, depois com a 9 e finalmente com a 10 que, depois de Pelé,
virou a mítica camisa 10. Todo mundo sabe que em qualquer time de qualquer
lugar do planeta, quem ostenta o número 10 é o craque ou, pelo menos, é o
melhor do time, o “diferente”. Quem inventou isso foi Pelé e o fez dentro de
campo, jogando de maneira única. O chamado “gol de placa”, a comemoração com o
soco no ar, o “gol que o Pelé não fez”, os dribles… Pelé reinventou o futebol. Num
país que não valoriza sua história, até desdenha dela, aposentar esse símbolo de
maestria, que levou anos para ser construído e difundido mundo a fora, é o
primeiro passo para começar a esquecê-lo.
A
primeira vez que o Pelé foi chamado de rei, foi por um jornal francês. Um
reconhecimento estrangeiro de um jovem negro de um país desconhecido e
subdesenvolvido, mas jovem esse que era incomparável em sua profissão. Se
esperasse que o Brasil reconhecesse isso, morreria plebeu. Depois de uma
pesquisa feita com jornalistas esportivos do mundo inteiro, os estadunidenses o
elegeram o atleta do século. Dentre todos os esportes, o melhor. Vai demorar
pelo menos 77 anos para sabermos quem será o próximo atleta do século. Há
grandes chances de não ser único como é Pelé.
E
ainda há brasileiro que crê que Pelé não foi tudo isso, que o Maradona foi o melhor.
Nada contra o “hermano”, mas o 10 argentino não chega nem perto do brasileiro. Alguns
acreditam que o Garrincha foi o melhor, mas o próprio “anjo de pernas tortas”
afirmou que não. A molecada de hoje acredita que o Messi foi o melhor, ou o
Cristiano Ronaldo, mas isso é uma questão geracional, alimentada pelo descaso
natural com o qual encaramos nossa história.
Quando
Pelé surgiu no final da década de 1950, época em que outros brasileiros também
foram grandes campeões mundiais, o pugilista Eder Jofre e a tenista Maria
Esther Bueno. Hoje poucos se lembram deles. São homenageados em datas
específicas e nada mais.
Muito
se tem falado sobre patriotismo, nesses últimos 4 anos. Cantar o hino nacional
é ser “patriota”, ter uma bandeira em casa é ser “patriota”... Porém o descaso
com a história do Brasil e de seus construtores, continua o mesmo. Acho que até
se agravou. Ser patriota é também, e talvez principalmente, valorizar os grandes
feitos dos brasileiros, seja qual for. O médico Carlos Chagas foi indicado duas
vezes ao prêmio Nobel de medicina, em 1913 e 1921, mas não ganhou. Sabe por quê?
Porque não teve apoio da classe médica brasileira. O próprio brasileiro sabotou
o brasileiro. Marechal Rondon foi indicado duas vezes ao Nobel da Paz. Você já
viu algum militar falando disso? Acho que nem sabem. Mais um ícone de nossa
história que foi sabotado por seus pares. Nossos heróis da FEB - Força
Expedicionária Brasileira - e da FAB – Força Aérea Brasileira – que arriscaram
suas vidas na segunda guerra, alguns pereceram em campo de batalha... E quem
lembra? Mal constam nos livros de história.
Em 1990 os estadunidenses (a imprensa) fizeram uma pesquisa
para saber quem eram as pessoas/marcas mais populares do mundo. Pelé ficou em
terceiro, atrás do Papa João Paulo II e da Coca-Cola, e isso 13 anos depois de
ter parado definitivamente de jogar futebol. Levando em consideração que a
maior parte de sua carreira foi na era do rádio, o que esse ele fez, poucos
fizeram, se é que tem outro semelhante.
Nesse
país que desconsidera a própria história, aposentar a mítica camisa 10 é um
erro. Os jogadores de hoje, e os de amanhã, que corram atrás da bola e façam
por merecerem ser chamados de Dez, e lembrem-se sempre que o Rei foi o
primeiro. Precisamos aprender a valorizar nossa história e a nós mesmos,
brasileiros. O pontapé já foi dado há muito tempo, vida longa ao eterno Pelé.