24/01/2020

São Paulo, 466 anos



A dicotomia entre o discurso político e a realidade do paulistano (e de tantos “anos” por aí) é tão imensa, que não entendo como pode não perceber a diferença entre o falado em palanque e o vivido.

Aqui o indivíduo é esquecido, consumido, espremido, comprimido (e mais comprimidos) nessa cidade turbulenta, violenta, lenta... Transeunte sempre atrasado, em trânsito, completamente parado sobre o asfalto. Assalto, assalto, assassinos a solta... E o paulistano preso ao medo, ao modo chulo, ao cheiro ruim, alagado, ilhado, soterrado sob a terra que é sua... Desterrado pela própria omissão.

Solitário na multidão, sem propriedade, o paulistano é um exilado em sua própria cidade.


Canção do Exausto


Minha terra tem problemas
que sabia até o sabiá
As aves que aqui gorjeiam
são os mais podres carcarás

Nossas ruas, mais buracos
Nossas várzeas, mais horrores
Nas esquinas, mais chacinas
Nossas vidas, mais temores

Nessa terra paulistana
quase nada que se planta dá:
a grama aqui não verdeja
o lixo sempre há de aumentar
os sujos rios não têm correnteza
e o ar cinzento o sufocará

Nossas aves, revoada de rapina
alimentam-se de propina
Nossos trens, mais descarrila
aqui nunca prosperará
Minha terra tem problemas
que sabia até o sabiá

Não permita Deus que eu morra
sem que me revolte contra lá:
do Matarazzo ao Bandeirantes
Câmara e Assembleia
parasita classe deletéria
que eu a ponha a debandar

Minha terra tem picaretas
que sabia até o sabiá
Carcará que aqui gorjeia
do povo bovino se alimentará
Em cismar – sozinho - à noite
não dormi... Já é hora de levantar


Texto e poema declamados



Minhocão no centro dos outros é refresco


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