A dicotomia
entre o discurso político e a realidade do paulistano (e de tantos
“anos” por aí) é tão imensa, que não entendo como pode não
perceber a diferença entre o falado em palanque e o vivido.
Aqui o
indivíduo é esquecido, consumido, espremido, comprimido (e mais
comprimidos) nessa cidade turbulenta, violenta, lenta... Transeunte
sempre atrasado, em trânsito, completamente parado sobre o asfalto.
Assalto, assalto, assassinos a solta... E o paulistano preso ao medo,
ao modo chulo, ao cheiro ruim, alagado, ilhado, soterrado sob a terra
que é sua... Desterrado pela própria omissão.
Solitário
na multidão, sem propriedade, o paulistano é um exilado em sua
própria cidade.
Canção
do Exausto
Minha terra tem problemas
que sabia até o sabiá
As aves que aqui gorjeiam
são os mais podres
carcarás
Nossas ruas, mais buracos
Nossas várzeas, mais
horrores
Nas esquinas, mais
chacinas
Nossas vidas, mais temores
Nessa terra paulistana
quase nada que se planta
dá:
a grama aqui não verdeja
o lixo sempre há de
aumentar
os sujos rios não têm
correnteza
e o ar cinzento o sufocará
Nossas aves, revoada de
rapina
alimentam-se de propina
Nossos trens, mais
descarrila
aqui nunca prosperará
Minha terra tem problemas
que sabia até o sabiá
Não permita Deus que eu
morra
sem que me revolte contra
lá:
do Matarazzo ao
Bandeirantes
Câmara e Assembleia
parasita classe deletéria
que eu a ponha a debandar
Minha terra tem picaretas
que sabia até o sabiá
Carcará que aqui gorjeia
do povo bovino se
alimentará
Em cismar – sozinho - à
noite
não dormi... Já é hora
de levantar
Texto e poema declamados
Minhocão no centro dos outros é refresco
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