13/09/2020

O general de pijamas


As estrelas sobre o ombro

não nos servem de nada

Atrás de sua imensa mesa

é só mais um burocrata


Nunca combateu em guerra

nem foi em missão de paz

As medalhas que carrega

não representam nada demais


Os generais em seus pijamas

uma tropa de sanguessugas

se esbaldam no dinheiro do povo

que é quem trabalha e não foge à luta





08/09/2020

Filho da pátria


No dia da independência

se enaltece a dependência

Por que tamanha discrepância

de sua excelentíssima excrescência?

 

O calhorda que ocupa a presidência

politica em subserviência

aos EUA, e lhe presta continência

mero cãozinho em obediência

 

Otária gente brasileira

por onde vá, em temor servil

essa pátria nunca estará livre

há quem goste de morrer pelo covil






31/05/2020

No alvo


O tiro bento no rito sacro
o pagão alvejado, aleluia!
A pistola do senhor não erra
a munição divina não falha

Cada vez mais secular
a religião refaz sua liturgia
baseada em valores mundanos
para que o pastor continue
pastorando as ovelhas
que só servem para dar lã


Cena patética...




11/05/2020

Receita de um país na brasa



  • Pegue a carne de um povo bovino (geralmente é bem barata);
  • Deixe de molho em séculos de descaso, falta de planejamento e má educação;
  • Adicione uma sequência de governos pífios que legislaram em causa própria;
  • Separe a carne em partes, de forma que uma sempre acredite ter mais “razão” do que a outra;
  • Reforce com condimentos aplicados de maneira diversa, para manter a textura desigual;
  • Coloque um pouco de molho de pimenta vermelha;
  • Por conta da laicidade natural, adicione religião de forma desmedida;
  • Retire a ciência;
  • Adicione idolatria às figuras espúrias e culto à ignorância;
  • Besunte com comodismo e desconexão com a realidade;
  • Invente verdades e salpique a gosto;
  • Enrole-a em revoluções e ditaduras;
  • Mantenha sempre a carne à beira do caos;
  • Em caso de pandemia, mais desinformação deve ser adicionada;
  • E por fim é bom a carne já ir ao fogo.

Enquanto a carne assa sobre a brasa, dar uma volta de jet-ski é recomendada. Cuidado para não cair.


Quadro "Primeira Missa no Brasil", de Victor Meirelles (1832 - 1903)




08/05/2020

Sobre mães e paladares



  Mais um dia das mães se aproxima e a programação geralmente é a mesma (para quem pode): ir almoçar na casa da mãe. Relembrar o gostinho da comida da mamãe é sempre bom. Algumas vezes (também para quem ainda pode) essa reunião familiar acontece na casa a vovó, que segundo o dito popular, é mãe duas vezes, porque cria os filhos e depois os netos. E esse encontro de gerações, torna a refeição duas vezes mais saborosa.

 Os pais educam (ou educavam) os filhos de muitas maneiras: ajudam com o dever acadêmico, moldam o caráter no sentido moral, ensinamentos mais peculiares como o musical, trabalhos manuais e artísticos, e formam também o paladar. Há pais que também cozinham, mas no geral são as mães que botam a mão na massa. Principalmente da minha geração, em que um saía para ganhar o pão e outro cuidava do lar.

  Como cresci comendo (e muito) também nas casas dos meus avós, há sabores que aprendi a gostar, como o feijão da minha avó materna e a “marmota” que minha avó paterna fazia. Eu achava tão gostoso o feijão da minha avó materna que comia até os pedaços de cebola, coisa que eu não fazia em casa. Sempre fui chato pra feijão, inclusive. A “marmota” que minha avó paterna fazia era uma delícia! “Marmota” é um bolinho de polvilho doce, em forma de laço, que era frito e depois passado no açúcar ou canela, e era uma festa porque geralmente quando minha avó fazia, estamos vários primos reunidos. Bagunça geral! Minhas avós já se foram e levaram junto esse meu paladar. Já comi muito feijão bem feito, temperadinho e tal, inclusive o da minha mãe, mas um de mastigar a cebola, com gosto, esse se foi. A “marmota”, minhas tias fazem, minha mãe faz, mas... Falta algum toque diferente, um tempo a mais na fritura, um descanso a menos da massa... Não sei o que é, mas se foi também.

 Já a minha mãe faz pratos que considero especiais e que nunca comi melhor por aí: panquecas, almondegas, bolinho de bacalhau e torta de carne (ou frango) são imbatíveis. Uma vez, numa empresa em que trabalhava, fizeram uma vaquinha para comprar os ingredientes da torta de carne e pediram para minha mãe fazer. Ela atendeu o pedido, claro. Na sexta-feira santa, bolinho de bacalhau é imprescindível. Muitas vezes como só o bolinho, e vários! Ela também é muito boa com bolos. Em aniversários ou na hora do café da tarde, sempre há um belo bolo sobre a mesa. Claro que há muita memória afetiva em tudo isso, mas cozinhar também é uma forma de ser carinhoso. E carinho é bom, não é? Carinho enche barriga.

 No começo da minha adolescência o paladar se ampliou: as redes de fast food começaram a fazer parte da vida. Ir ao shopping e comer no McDonald's passou ser o programa principal. Isso no final dos anos 1980, decorrer dos 90. Hoje essas lanchonetes, essas bandeiras de grife, se multiplicaram: do Burger King ao Outback, passando pelo Habib's, Giraffas... Isso sem falar na trash food, os “dogão”, churrasquinho grego, uma “sub-rede” de lanches que, sinceramente, acho até mais gostosa. Tem de tudo um prato, de tudo um preço, para todos os gostos.

 A vida, as obrigações e tecnologia avançaram, o sistema de delivery se aperfeiçoou e vieram os aplicativos, como o Ifood. Somando essa facilidade de pedir comida, com a falta de tempo, cozinhar ficou cada vez mais “trabalhoso”. Sair cedo de casa, trabalhar, estudar, levar filho para a escola, buscar filho no curso (natação, balé...), afazeres do lar e ainda ter que cozinhar? Nem pensar. Com a maioria das pessoas afogadas em rotinas, essas redes de fast food começaram chegar mais cedo à boca das crianças. Isso sem falar em uma série de guloseimas industrializadas. Imagine o quanto isso uniformiza o paladar. Teremos gerações futuras com o paladar formado pela indústria alimentícia e, talvez, elas se “reeduquem” quando adultas. Deve ser triste não ter um carinho gustativo para lembrar.

 Claro que também utilizo os aplicativos para pedir comida, e tem muita coisa gostosa para comer. Mas igual à de casa, da mãe, não tem concorrente que supra o sabor, que vai além da mera degustação. O mais curioso é que existem restaurantes que oferecem a seus clientes a tal “comida caseira”. Só não fornecem a lembrança junto, porque a comida feita em casa leva um tempero que só existe na nossa memória. Está lá gravado, não se cozinha isso. Inclusive no dia das mães vou até a casa dos meus pais para almoçar, não só uma bela refeição, mas também alguma lembrança bem boa. E irei em outras datas porque haverá um dia em que a sexta-feira santa não terá o mesmo sabor. Bom apetite a todos.


AB




01/05/2020

Um delírio de “futurologia”



  Com a quarentena decretada e a aproximação compulsória de casais, a ansiedade acumulada somada a ociosidade, proporciona a esses casais mais oportunidades para copular. Com certeza isso terá impacto direto num futuro índice de natalidade. Não só aqui como no mundo.

   Então está em gestação toda uma geração que será denominada “geração quarentena”, ou “geração Q”.

   E essa geração crescerá ouvindo estórias sobre a praga que foi o coronavírus, que o “Covid 19” foi criado em laboratório, que seus pais foram proibidos de saírem de casa, que fronteiras foram fechadas entre países, que as ruas ficaram vazias, que houve carretas em protesto, que houve desobediência civil, que foram proibidos de trabalhar, que foram proibidos de irem à igreja, que o governo mentiu sobre o número de infectados, que os hospitais estavam lotados, que as UTIs estavam vazias, que muitos morreram, que o presidente dizia ser mentira, que as pessoas saiam nas janelas para baterem panelas, que o governo deu auxílio em dinheiro, que havia briga entre os governos, que tudo era um plano de dominação comunista da China, que faltaram máscaras, que cada um fazia sua máscara, brigas por álcool em gel, empresas fecharam, desemprego, fome... E todas essas estórias terão um viés político.

   Ou seja: a “geração Q” terá tudo para herdar nossa visão bidimensional do mundo, com uma forte dose de maniqueísmo. Somando isso à nossa tradicional “incultura por opção”, essa futura geração terá tudo para ser mais ignorante.

  Veremos também outra face esdrúxula de nossa “tradição”: os nomes bizarros. Com certeza leremos por aí nomes como: “Allquingell”, “Allquingelson”, “Allquelle”, “Allcon”, “Corona” (esse já existe), “Corono”, “Coronelli”, “Coronelson”, “Covid”, “Covidson”, “Allcovidson”, “Allcovid”, “Covidavid”... E por aí vai.

   Quando ver uma barriga grávida, prepare-se, a “geração Q” está por vir.

AB 


NP, clássico jornal popular.

21/04/2020

A era de Trevas



O Mandetta caiu
a vendetta chegou
A caneta assinou
e maneta a saúde ficou

O capitão chupeta mugiu
e assim Trevas* surgiu
Brasil? Nem me viu!
Feliz de quem já fugiu







* Essa é a poesia que “não foi”: com a possível queda do ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, o mais cotado para assumir seu lugar seria o ex-ministro da cidadania, Osmar Terra, apelidado “carinhosamente” por Mandetta de “Osmar Trevas”. No final quem assumiu a cadeira foi Nelson Teich.

03/04/2020

Em casa



Quarentena declarada
um vírus se espalhou
Da janela vejo Raul a cantar:
“o dia em que a Terra parou...”

Entre a espada: guitarra na mão
e a cruz: povo infectado
fique em casa, bem guardado
não piore a situação...



Prédio no Largo São Bento



Sobre líderes evangélicos



A queda de braço entre governos estaduais e líderes neopentecostais, em especial Silas Malafaia e Edir Macedo, para que os cultos presenciais continuem, mostra o quão cretinos ambos são.

Pastores que querem aproveitar o momento de fragilidade social, para enriquecer mais, já que essas lideranças se beneficiam do sofrimento alheio, no mercado da fé.

O que poderia ser o contrário: essas empresas religiosas têm espaço e verba para ajudar e salvar (neste mundo) muitas vidas.

Poderiam ceder seus templos para o atendimento médico; poderiam doar muito material hospitalar, o que sairia a preço de banana, para esses “biliardários”. Ainda mais que nem impostos pagam (IPTU, IR, COFINS, ICMS, ITCMD, conforme artigo 150, inciso VI da Constituição Federal).

Uma liderança que preza pelo ser humano, ajudaria a sociedade nesse momento de pandemia, falta de recursos e insegurança com o futuro. Mas não... A preocupação desses charlatões é com o faturamento do culto, ou seja, com o próprio bolso.

Isso mostra a falta de empatia, completo descaso e desrespeito com seu próprio público, os fiéis que os sustentam, que enchem suas contas bancárias.

Se você é um desses fiéis, não vá ao culto, missa ou equivalente, isso ajudará a propagar mais rápido o corona vírus. Ao pastor só lhe interessa os 10% do salário que você ganha, e com muito trabalho.

E caso seu pagamento mensal lhe falte, por conta do seu emprego estar comprometido, a igreja (seja qual for) não irá pagar as suas contas.

Nesse momento, o bom senso salvará mais do que a fé.

A palavra “solidariedade” não está na bíblia desses caras.




13/03/2020

É carnaval!



Coronavírus é só uma fantasia”
já dizia o rei do bananal
Colocou a máscara, eu já sabia
que era só pra brincar o carnaval

E lá vem mais uma epidemia
para desespero de todo o curral
Domingo, sem boiada na avenida
percebam: “o rei está nu” e sem moral



capitão boçal (o herói do terceiro mundo)

24/01/2020

São Paulo, 466 anos



A dicotomia entre o discurso político e a realidade do paulistano (e de tantos “anos” por aí) é tão imensa, que não entendo como pode não perceber a diferença entre o falado em palanque e o vivido.

Aqui o indivíduo é esquecido, consumido, espremido, comprimido (e mais comprimidos) nessa cidade turbulenta, violenta, lenta... Transeunte sempre atrasado, em trânsito, completamente parado sobre o asfalto. Assalto, assalto, assassinos a solta... E o paulistano preso ao medo, ao modo chulo, ao cheiro ruim, alagado, ilhado, soterrado sob a terra que é sua... Desterrado pela própria omissão.

Solitário na multidão, sem propriedade, o paulistano é um exilado em sua própria cidade.


Canção do Exausto


Minha terra tem problemas
que sabia até o sabiá
As aves que aqui gorjeiam
são os mais podres carcarás

Nossas ruas, mais buracos
Nossas várzeas, mais horrores
Nas esquinas, mais chacinas
Nossas vidas, mais temores

Nessa terra paulistana
quase nada que se planta dá:
a grama aqui não verdeja
o lixo sempre há de aumentar
os sujos rios não têm correnteza
e o ar cinzento o sufocará

Nossas aves, revoada de rapina
alimentam-se de propina
Nossos trens, mais descarrila
aqui nunca prosperará
Minha terra tem problemas
que sabia até o sabiá

Não permita Deus que eu morra
sem que me revolte contra lá:
do Matarazzo ao Bandeirantes
Câmara e Assembleia
parasita classe deletéria
que eu a ponha a debandar

Minha terra tem picaretas
que sabia até o sabiá
Carcará que aqui gorjeia
do povo bovino se alimentará
Em cismar – sozinho - à noite
não dormi... Já é hora de levantar


Texto e poema declamados



Minhocão no centro dos outros é refresco


13/01/2020

Quem precisa de humorista, quando se tem o evangélico?



Esse caso do Porta Dos Fundos se desdobra cada vez mais.

Agora tem um foragido: Eduardo Fauzi, criminoso com 15 passagens pela polícia e seguidor do velhaco Olavo de Carvalho.

No vídeo gravado pelo vagabundo, dentre outros blá, blá, blás, ele acusa a produtora de "desrespeitar" os cristãos, jesus e derivados.

Vamos pensar um pouco: com toda a bizarrice evangélica que há por aí, quem precisa de humorista para desmoralizar o cristianismo?

Essas igrejas neopentecostais vendem tudo quanto é charlatanice ungida: vassoura ungida, martelo ungido, sabão em pó ungido, travesseirinho ungido (vídeo no final do texto), suco de uva ungido, caneta ungida (para passar em concurso, porque estudar ninguém quer) água abençoada, sabonete... E com certeza uma infinidade de outras besteiras.

E os "exorcismos"? Tem coisa mais ridícula, de tão falso que é? Bem, ironicamente, isso faz da televisão brasileira a mais democrática do mundo, já que é a única em que o demônio fala ao vivo, em rede nacional.

Os bispos, pastores, obreiros e sei lá mais quais denominações existem, construíram a indústria (máfia) da fé e faturam muito sobre a ignorância da população.
Se existe alguém que desmoraliza, ridiculariza, zomba, etc. do cristianismo, esse alguém é o evangélico... Vulgo crente.

Mais uma vez: quem precisa de humorista, quando se tem o evangélico?