Meu nome é André, sou paulistano, filho do progresso (sou filho de nordestinos). A origem do meu nome gera discussões contraditórias em minha casa até hoje. Desde pequeno acreditei que ele foi inspirado numa personagem interpretada pelo ator Tony Ramos, o André Cajarana (novela Pai herói). Nasci em 1975 e descobri que essa novela foi ao ar em 1979! Apesar da confirmação de que ela foi realmente veiculada quatro anos depois do meu nascimento, meu pai insiste em dizer que não. Vai entender.
Tenho muitas lembranças da época de ensino fundamental: sempre entravamos em fila, medindo um braço de distância do amigo da frente, depois seguíamos até sala. Uma fila por vez. Na educação física, além do uniforme totalmente branco, ficávamos com os braços para trás do corpo, uma mão segurando o punho da outra, até começar os exercícios. Todos os dias fazíamos o cabeçalho no caderno, depois traçávamos dois riscos na folha, verde e amarelo. Teve uma vez em que uma vizinha minha (não esqueço disso) voltou do colégio e me deu uma notícia que me deixou feliz o resto do dia: quando fui sair de casa para a aula, ela voltava e curioso perguntei, você não vai à escola hoje?, ela disse que não porque não haveria aula, nosso presidente Tancredo Neves tinha falecido. Quando ela me disse isso soltei um grito, eba! hoje não tem aula! Voltei para casa.
Dez anos depois, em 1994, quando servi à pátria, descobri que muitas das posturas adotadas pelo colégio eram influenciadas pelo regime militar; regime que (re)vivi ao pé da letra.
A vida de soldado era uma moleza. Eu era datilógrafo numa seção que cuidava do calendário semanal das atividades do batalhão. Não fazia nada e ainda recebia para isso – R$96,00. No começo eram sei lá quantas URVs (unidade real de valor), depois nosso ministro Fernando Henrique mudou para real, e assumiu a cadeira do topetudo Itamar Franco (que tem como marca de governo o relançamento do Fusca... é mole!).
Um ano depois quando sai do quartel, o mercado de trabalho estava de pernas para o ar. Empresas que vivam da inflação, desapareceram do dia para a noite, o que gerou muito desemprego. Nem parecia mais o mesmo país de 1989, de quando comecei a procurar emprego. Os moleques nessa época começavam nas empresas como Contínuo. Acho que ninguém imaginava que o processo de redemocratização, que começou para valer com as eleições diretas para presidente, e teve Fernando Collor como vencedor, acabaria com a inflação, ainda mais depois da amiguinha Zélia do Fernandinho aprontar com nossas poupanças... mas deixa isso para lá.
Hoje vejo que presenciei muitas mudanças do país (e do mundo), sem se dar conta; eu era muito menino. O engraçado é que, quando olho assim para trás no tempo, vejo que nasci no século passado, e me sinto jurássico. E o mais engraçado ainda é que o Brasil depois de passar por uma leva de presidentes num curto espaço de tempo, e jogar de vez na caverna o dragão da inflação, o que parecia impossível, depois de tudo isso, eu ainda continuo sem saber de onde tiraram meu nome.
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